Assuntos como segurança alimentar e conservação da sociobiodiversidade foram destaques na agenda organizada pela Embrapa Alimentos e Territórios, em Alagoas. A programação, com início em 30 de agosto, incluiu a entrega do Prêmio Dom Helder Câmara, seminários e um intercâmbio finalizado no último domingo (03), teve como alvo gerar encontros e provocar debates sobre temas relevantes para as comunidades e instituições presentes, como a cultura alimentar e desenvolvimentos tecnológicos.
A iniciativa de todo encontro, parte da interação com o projeto Dom Helder Câmara, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) em parceria com a Embrapa. Paola Cortez, pesquisadora da área de agricultura familiar e agroecologia da Embrapa alimentos e territórios, em Maceió, destaca que “o objetivo desse projeto de maneira geral é implementar ações de promoção da segurança alimentar e nutricional e de geração de renda para agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais do semiárido brasileiro”.
Para a pesquisadora, a realização do evento e intercâmbio foi uma forma de trazer uma reflexão sobre o projeto e seus resultados, visto tanto pela instituição quanto pelas comunidades e povos que participaram. “A gente entende como o projeto foi pautado em pesquisas participativas (…) por isso essa organização em formato de diálogos e trocas. A gente espera um fortalecimento das iniciativas, das ações e das redes locais nos territórios e visibilizar essas experiências e contribuições que as comunidades dão para a conservação da paisagem, da biodiversidade e patrimônio alimentar”, afirma.
Priscila Machado, engenheira agrônoma, colaboradora da Embrapa e uma das representantes em campo durante algumas atividades do projeto, frisa a importância de que um dos resultados seja o debate e valorização das culturas e tradições destes espaços. “Até então, nós tínhamos uma noção de que a cultura alimentar das comunidades é uma forma de resistência, convivência com o semiárido e garantia da segurança alimentar. A cultura que eles guardam e reproduzem até hoje na sua alimentação, é uma forma de patrimônio imaterial tanto para o bioma Caatinga como para a sociedade (…) o projeto contribuiu para o entendimento e valorização das comunidades e povos sobre a importância da cultura alimentar”.
Além das participações diretas das comunidades, foram convidadas instituições que estiveram presentes, mesmo que de forma mais indireta, bem como, que realizam trabalhos importantes dentro desses espaços, como a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá, a Coopercuc, representada na ocasião pelo setor de assistência técnica e extensão rural (ATER). Para Egidio Trindade, coordenador do ATER Coopercuc, “esse prêmio traz como evidência o trabalho da comida tradicional, da comida ancestral, junto aos seminários e demais atividades, houve muita troca de experiência e conhecimento”.
Taiane Costa, técnica e pedagoga da cooperativa que acompanhou as atividades, fala sobre a experiência foi uma importante fonte de conhecimento que também pode contribuir para as atividades desenvolvidas pelos técnicos em campo.
“Foi um momento muito importante para construção de conhecimentos entre territórios, e povos tradicionais. Esse reencontro mostrou a força que nós temos enquanto entidades organizadas no processo de produzir de forma sustentável, saudável e em uma grande diversidade, mostrando até mesmo para as grandes indústrias que é possível se viver bem, consumindo alimentos saudáveis e gerando economia local e regional. Para nós, isso pode ser aplicado de forma interativa, com ações sociais, inclusivas ou mesmo momentos de resgate com essas pessoas para garantir que nossa história não padeça, mas que possamos motivar mais pessoas a assumirem as suas origens”, refletiu.
Segundo a estudante de Biologia e bolsista do projeto FIDA, Carlaíse Freitas, a ligação com a terra presente nesses espaços é fruto do conhecimento e experiências de gerações que viviam em total harmonia com o meio ambiente e que precisam ser repassadas. “Valorizar esse conhecimento é essencial, não apenas como forma de respeitar cada cultura, mas também de promover a conservação ambiental. O impacto dessas comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, de fundo de pasto, as comunidades tradicionais de modo geral, na conservação do meio ambiente é imenso (…) e precisa ser um legado que perdure e beneficie gerações futuras. Para isso é fundamental a escuta ativa, todo compartilhamento e desenvolvimento de ações realizadas pela Embrapa e instituições parceiras junto as comunidades”.
O evento contou também com a Feira de Sociobiodiversidade onde era possível encontrar os produtos desenvolvidos pelas comunidades, como os itens da linha Gravetero e muito mais. Para o intercâmbio, o grupo foi recepcionado no Assentamento Nova Esperança e Quilombo dos Palmares, onde puderam acompanhar as atividades de preservação, geração de renda, relatos históricos e trocas emocionantes das lutas presentes nestes locais repletas de identificação e acolhimento entre os presentes.