Foi realizado ontem (27), em Uauá, Bahia, o lançamento do projeto REDESER: “Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil – Práticas Agroflorestais Sustentáveis e Conservação da Biodiversidade”. Uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente.
Com apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as atividades serão executadas pela Fundação Araripe junto às parceiras locais, a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC) e a Escola Família Agrícola do Sertão (EFASE). As instituições estão alocadas nas cidades de Uauá, território Sertão do São Francisco e Monte Santo, território do Sisal e serão responsáveis também pelo acompanhamento técnico de, inicialmente, 12 comunidades, divididas igualmente entre os municípios.
Alexandre Pires, diretor do departamento de combate à desertificação na secretaria nacional de povos e comunidades tradicionais e desenvolvimento rural sustentável, no MMA, retrata o objetivo do projeto como uma ação para reverter os processos de desertificação. “A ideia é que possa reverter, com as ações de manejo sustentável da Caatinga, com uma agenda de reflorestamento da Caatinga que foi degradada”. Pires afirma ainda que uma atitude importante é a de valorizar os conhecimentos das comunidades envolvidas nas ações. “É preciso ter uma iniciativa que fortaleça os conhecimentos dos agricultores e agricultoras, associados ao conhecimento técnico da equipe da Fundação Araripe para que assim a gente consiga trabalhar em pelo menos 13 mil hectares (…) com mais de 800 famílias envolvidas”, destaca.
Pensando na soma dos conhecimentos, representantes da Universidade Federal do Vale do São Francisco também estiveram presentes no evento e estão inseridos nos processos de formação que serão elaborados entre a universidade e a Escola Família Agrícola para ajudar nas práticas necessárias nas comunidades. Lucia Marisy, professora e Vice reitora da UNIVASF, reafirma o compromisso da instituição enquanto responsável por partilhar experiências e saberes. “Queremos o desenvolvimento, mas não a qualquer preço. Queremos um desenvolvimento que seja sustentável, que observe as condições dos recursos naturais e, para isso, eu penso que nós temos pesquisadores, professores, alunos, técnicos que podem participar do processo de uma forma muito efetiva”, assegura.
A apresentação do funcionamento, equipe e demais atribuições do projeto, foi feita por Francisco Campelo, diretor técnico da Fundação Araripe. Na oportunidade, com a fala do diretor, foi possível entender as atividades, prazos, distribuições de recursos e quais as comunidades selecionadas. “O desafio nessas 12 ou 14 comunidades é apresentar um modelo de gestão das áreas de fundo de pasto, de maneira que elas possam ter seu potencial ambiental percebido pelas comunidades e definir como podem ser utilizadas de maneira sustentável para que essas áreas fiquem cada vez mais fortalecidas, no coletivo e não de forma individualizada (…) o outro desafio é a gente apresentar propostas de restauração de áreas degradadas, aproveitando o trabalho que já foi feito na região pelo IRPAA de recaatingamento (…) vamos visitá-las e ver como retomá-las para que o recaatingamento volte a ser uma pauta dentro dos processos de restauração”, discorre.
Cicero Felix, coordenador geral do IRPAA e parte da coordenação nacional da ASA, compôs a mesa e refletiu sobre a importância de fazer relação do projeto com os trabalhos que já foram desenvolvidos na região abordando o tema. “Esse projeto vem fortalecer e ampliar as ações de cuidado com o nosso bioma, o bioma Caatinga, que é tão importante para as populações que vivem nele, mas também para todas as regiões do Brasil. Só existe Caatinga no Brasil, no semiárido brasileiro”, lembra. Esse também foi um destaque para Valdivino Rodrigues, militante da articulação das comunidades tradicionais de fundo de pasto, por entender que é por meio desses projetos que todos “compreendam a necessidade de preservar a Caatinga, as áreas de produção principalmente coletivas que é tradição nesse tipo de comunidade”.
Por meio de auxílio técnico e acompanhamento das comunidades na cidade de Uauá, a Coopercuc se torna uma importante aliada às demais instituições. Para Adilson Ribeiro, presidente da cooperativa, “o fortalecimento será para todo sistema produtivo em nossa região. Como um todo, o bioma Caatinga não tem uma política definida para essa questão ambiental de preservação, esse projeto é uma forma de refletir sobre isso e chamar outros órgãos para participar das discussões. Para nós da Coopercuc, é também um meio de trazer a memória de tudo que foi feito e a necessidade do que estamos vivenciando hoje (…) agora sendo alertados de que precisa fazer algo diferente”.
Para Mismar Lima, técnico em zootecnia e um dos membros do ATER Coopercuc que estará ligado ao REDESER, “a expectativa é de consciência. Trabalhar com a consciência do produtor rural da conservação da Caatinga a fim de evitar a desertificação. E que ao final da execução do projeto, a gente consiga deixar um legado para a comunidade”. O técnico faz parte de uma equipe de 16 profissionais responsáveis pelas orientações e acompanhamentos em campo junto às famílias.
O projeto tem duração de 18 meses e espera que o manejo sustentável da Caatinga seja também uma porta para ajudar o país no problema relacionado a fome. “É um projeto de suma importância para a nossa organização que trata do nosso mandato, que é a erradicação da fome no mundo (…) a região nordeste é uma grande produtora de alimentos e aqui na região de Uauá e Vale do São Francisco é uma grande produtora de Fruticultura e abastece o nosso país como um todo. A FAO está toda engajada com os parceiros para que esse projeto seja implementado e executado da melhor maneira possível”, relata Tiago Queiroz, gerente de operações da FAO no Brasil.