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CONCURSO “MELHOR PÃO À LENHA DE UAUÁ” FOI A NOVIDADE DA 11ª EDIÇÃO DO FESTIVAL REGIONAL DO UMBU E MOBILIZOU PADEIROS E POPULAÇÃO EM PROL DA PRESERVAÇÃO DA CULTURA

foto: Rhuan Állan

Tradições, memórias afetivas e um dos sabores referência do município. Esses foram os principais pontos destacados pelo concurso “Melhor pão à lenha de Uauá”, promovido pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC), como novidade para a 11ª edição do Festival Regional do Umbu realizado do dia 29 de fevereiro a 2 de março.  

Dividida entre voto popular e técnico, a avaliação e premiação foram divulgadas na sexta-feira (1), com auditório lotado, que teve como primeiro momento a degustação também pelo público presente no evento. No total, foram 9 padeiros inscritos.  

Segundo a diretora-executiva secretária da Coopercuc, Jussara Dantas, a iniciativa partiu do presidente em uma inquietação sobre a valorização externa dessa cultura. “A ideia surgiu em uma reunião da cooperativa, onde Seu Adilson trazia essa questão do pão, que muitas vezes ele tem que levar uma quantidade de pão para alguma autoridade em Brasília, em Salvador, em São Paulo. O pessoal pede mesmo: “quando vier, traga um pãozinho de Uauá”. Então ele viu que era um produto único aqui da região, o pão caseiro, feito à lenha e muito artesanal, um processo todo feito à mão”.

foto: William Fraça – @imburanatec_

A diretora ainda destaca a importância de realizar esse concurso durante o festival. “É uma forma de fazer a promoção do pão em um evento já importante, que tem a valorização devido ao conhecimento dos produtos feitos dessa fruta. Mas aqui também temos outras potencialidades que precisam ser aprimoradas e com um olhar diferenciado (…) A gente não ver novos padeiros na comunidade, é preciso que a gente empodere e estimule a juventude a se apropriar dessa tradição, por isso decidimos, dentro do festival, valorizar essa potencialidade e a experiência foi muito legal, todos os padeiros entraram na brincadeira e mostraram que todos mereciam levar o título”.  

Para mediação do momento de avaliação entre os jurados e informar a decisão final, o convite foi estendido à Neide Rigo, nutricionista, consultora na área de alimentação e professora de panificação com fermentação natural. A especialista, que conheceu a cooperativa através do movimento Slow Food, diz que ficou muito impressionada com a inclusão do concurso no festival.  

“Desde que estive aqui pela primeira vez, fiquei impactada com as padarias artesanais de forno de lenha que eu nunca tinha visto tantas e com um apelo popular muito grande, onde as pessoas têm uma relação afetiva com esse pão. Tenho um blog que chama “come-se”, onde há 10 anos fiz um post falando sobre as padarias daqui e fiquei impressionada que muitas pessoas não conheciam (…) Visitei algumas por ocasião do concurso e fico muito feliz em ver que se tornou uma das atrações do festival do umbu que preza pela valorização não só do umbu e das práticas com o fruto, mas também de temas importantes relacionados a preservação Caatinga e a valorização de produtos locais, comestíveis e culturais. Isso torna o impacto ainda maior aos padeiros, que muitas vezes se sentem desvalorizados. Espero que esse seja um passo que traga valorização ao ofício e as pessoas se orgulhem do que fazem”, ressalta Neide.  

A nutricionista destacou a importância de inserir os jovens no processo. “Se os mais novos começam a se interessar é possível inovar, como por fazer pão de fermentação natural, pode incluir ingredientes locais e assim você incentiva a agricultura familiar (…) fazer pão doce colocando o umbu, pode incrementar e acho que isso está na mão dos mais jovens. O festival teve essa função de agregar valor e mostrar a diferença e qualidade desse pão que só tem ingredientes que a gente conhece”, finaliza.  

foto: Rhuan Állan

O padeiro Cristiano Santana, primeiro colocado, diz que “esse concurso acaba prestigiando e valorizando a profissão”. Para o vencedor desta edição, é uma forma de reconhecimento. “É muito bom saber que o alimento que você produz é valorizado em sua cidade, isso acaba nos incentivando a cada dia estar aperfeiçoado para que sempre esteja à altura dos nossos clientes”.  

Na avaliação final, a equipe de jurados/as destacou que a classificação foi apertada e que o “melhor” definido durante o concurso pode ter variações devido a vários fatores, como a forma de produção, temperatura do forno, ingredientes, entre outros.

“De fato, todos os pães foram de muita boa qualidade, e foi um grande desafio o processo de avaliação. Aparência externa, textura do miolo e sabor foram os requisitos que mais utilizei no processo de degustação, e ousaria dizer que talvez minha origem, italiana, tenha interferido nas pontuações. Pães com uma crosta mais crocante e com menor teor de açúcar ganharam meu paladar”, conta Valentina Bianco, diretora Slow Food para América Latina e o Caribe e uma das juradas presentes na decisão.  

A diretora deixa ainda a sua sugestão para o próximo ano. “Acredito que numa próxima edição o festival poderia incluir o uso do umbu nos ingredientes a serem utilizados pelos participantes do concurso, fomentando a criatividade, o uso do umbu e a produção de novas receitas”.  

A premiação foi entregue na noite da sexta-feira (1) pelas mãos dos diretores da cooperativa, o presidente Adilson Ribeiro e as diretoras executivas Carla Pereira e Jussara Dantas.

Galeria de fotos: Rhuan Állan