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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO CULTURAL POSSIBILITA INTERCÂMBIO ENTRE ALUNOS DE TODO O BRASIL E PROMOVE IMERSÃO SOBRE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

Conhecer as vivências das comunidades; entender as ações de recaatingamento; visitar e se informar das atividades desenvolvidas pela Coopercuc, além de tirar dúvidas e apreciar a história e trajetória da instituição. Esses foram alguns dos objetivos do intercâmbio com o grupo de alunos do curso de pós-graduação em Gestão Cultural Contemporânea do Itaú Cultural.

Nesta última terça-feira (26), acompanhados por membros da equipe da cooperativa, em média 35 pessoas tiveram a oportunidade de experienciar a comunidade tradicional de fundo de pasto, Lages das Aroeiras, localizada em Uauá, norte da Bahia. Durante a agenda, foi possível caminhar pelas áreas de recaatingamento, ouvir relatos do que é e como estão organizadas as comunidades com essa denominação com pausas para degustar os sabores produzidos como resultados da convivência com o Semiárido de famílias que fazem parte da associação local e cooperativa.

A docente do curso à frente da excursão, Neide Rigo, conta sobre a escolha da região e instituição para essa visita. “A gente está em Petrolina fazendo um estudo de caso de convivência com o semiárido (…) achei interessante incluir no roteiro a visita à Coopercuc porque para mim é um modelo de sucesso de gestão, então para eles que são gestores culturais e comida é cultura, esse é um exemplo a ser seguido e para acabar com esse estereótipo de que no Semiárido as coisas não acontecem”.

Sobre a experiência, Bárbara Muniz, de Fortaleza, no Ceará, destacou que o impacto maior foi em “conhecer a trajetória, é muito interessante a gente ver que sonhos, ideias, necessidades e demandas que nascem de um tempo atrás, conseguem ser plantadas as sementes das ações, iniciativas das associações e cooperativas e colher frutos no hoje (…) e, ao mesmo tempo que enxergamos que aqui é muito estruturado, que tem uma estrutura física, também tem uma estrutura humana muito forte”.

Durante as conversas, um tema recorrente foi a participação dos jovens nos projetos e processos de se reconhecer e assumir os locais e ações de representação, com a possibilidade de fazer comparativos dessas presenças nos espaços que ocupam em suas cidades e que é destaque também no curso.

“Uma das questões muito presentes para o trabalho de conclusão é falar sobre a juventude (…) me veio muitos questionamentos: será que as crianças querem permanecer aqui? Será que querem continuar o legado? Se tem essa vontade de ir para fora, para quê? E as crianças que estão em São Paulo, de vir fazer esse intercâmbio também (…) falamos sobre juventude, educação, me parece que ainda é uma incógnita, mas que existe uma série de iniciativas que estão aí e que precisam continuar seu legado. Me gera dúvida, mas me gera também esperança de que as pessoas continuem crescendo esses lugares”, aponta Lucas Martins, de São Paulo.

Suzy Santos, moradora da comunidade do Jardim Vermelhão em Guarulhos, São Paulo, conseguiu fazer uma relação entre as suas vivências e as experiências com os territórios em Uauá e aborda as mudanças no olhar após a visita. “Conhecer a Coopercuc para mim foi muito importante porque a gente também tem uma associação comunitária que trabalha para a melhoria da qualidade de vida da nossa comunidade que é uma favela (…) um lugar colocado como um ambiente inóspito e que, nesse caso, aqui vocês estão mostrando que ele foi lido e interpretado dessa forma, mas é muito rico. Saber lidar com a natureza, com essa diversidade, com as suas especificidades e, não só a natureza se adaptar à gente, mas a gente se adaptar à natureza, respeitá-la. Nós, que vivemos em ambientes em que o tempo inteiro precisamos traçar estratégias de sobrevivência, precisamos muito dessa inspiração”.

Ainda nessa perspectiva de transformação de olhar e imersão de conhecimento, Gabriela Graça, São Paulo, relata que essa é uma forma de “entender que a gestão cultural está muito relacionada com como as pessoas vivem, o que comem, como se relacionam. E fazer gestão cultural para mim é isso, olhar justamente para essas comunidades brasileiras, que fazem isso em seu dia a dia de forma coletiva, pensando no bem coletivo (…) Foi muito importante estar aqui, gostei muito de conhecer, expectativa superada. Não tinha noção do quanto é organizada e avançada a formação política desse grupo”.

Gabriela descreve também uma inquietação que veio com ela e foi se disseminando durante as conversas. “Também fiquei pensando que foi algo que trouxe essa expectativa e que atingiu, é que estando em uma das maiores cidades da América Latina, onde circula muita informação, muito dinheiro, nós que estamos lá, sabemos o quão a gente fortalece os povos tradicionais que estão em outras regiões do Brasil? (…) como escolhemos usar as informações e dinheiro a favor dessas pessoas que estão, na verdade, contribuindo com a questão social e ambiental? (…) Em uma cidade grande dessa, como gestora cultural, me sinto na responsabilidade de, estando lá em São Paulo, fortalecer essa história, levar para outras pessoas o que é a comunidade de fundo de pasto, tecer essas relações para que a gente possa fortalecer quem merece de fato está avançando dentro do país. Pessoas que pensam uma ideia de país diversa, democrática e justa”.

Com relação aos resultados abordados pelos alunos e pela docente que acompanhou o grupo, existe a concordância de que o impacto foi muito significativo, com desconstruções e partilhas de conhecimentos de modo muito relevante.

“Foi muito massa escutar a propriedade, a propriedade que vem de memórias, que vem de legado, que vem de um processo árduo de trabalho e me dá esperança e força para voltar para Fortaleza e lutar para construir os nossos espaços também, no hoje, no amanhã, no daqui a dez anos e acreditar na continuidade das coisas (…) Para mim esse processo da Coopercuc e das cooperativas que trabalham com agroecologia, agricultura familiar, outras maneiras de produzir alimento, cultura, estratégias de manutenção de vida e convivência harmônica, elas precisam de calma e continuidade. Vou voltar com isso: resistência, convivência, paz e continuidade”, ressalta Bárbara.

“Eles estão saindo daqui com essa sensação de como você consegue conviver com o Semiárido de uma forma harmônica e com sucesso. Se pensar o sucesso que é a Coopercuc e como é essa gestão entre os cooperados (…) Então esses alunos, alunas e alunes do Brasil inteiro, com essa ânsia de conhecer esses modelos de gestão, certamente um grande impacto para eles”.

Por meio de aulas virtuais e o encontro presencial como parte do último módulo do curso de pós-graduação em gestão cultural contemporânea do Itaú Cultural, é possível reunir diversidade, histórias e processos de todo o país devido à participação de diferentes regiões brasileiras. O intercâmbio contou também com visitas a comunidades nas cidades de Juazeiro, na Bahia, bem como Petrolina e Lagoa Grande, ambas localizadas em Pernambuco.